quinta-feira, 30 de junho de 2011

Rock'n love (parte 2)

- Você tem vinis?? Nossa, faz tanto tempo que não ouço um vinil. Sinto saudade daquele barulhinho suave que a agulha faz.

- Você quer ouvi-los? Posso até te emprestar alguns se quiser.

- Não adiantaria, vendi meu toca-discos há algum tempo, por falta de grana... Mas gostaria sim. Agora?

- Pode ser.

A princípio eu a achei meio maluca de topar ir à casa de um desconhecido. Depois pensei na minha segurança. Ma ela parecia uma baixinha inofensiva. Se eu não matá-la talvez ela também não me mate. Espero.

Quando chegamos na porta do meu apartamento, ela falou:

- Veja bem, vim somente por causa dos discos, ok?

Entendi o que quis dizer e respondi.

- Tudo bem, não esquenta.

Mal abri a porta e ela vôo para a estante com os vinis. Ofereci algo para beber.

- Só água, por favor. – respondeu. Ainda bem que ela não pediu mais whisky, porque eu ficaria devendo.

Quando voltei para a sala, ela já estava deitada no sofá, tocando uma guitarra imaginária ao som de Rolling Stones. De repente pensei “Talvez ela seja uma dessas meninas doidinhas que aparecem na vida de um cara e a torna mais divertida, como em alguns filmes – é, sou um cara sensível que assiste comédias românticas (mentira, só quando bate o tédio)”.

Ficamos ouvindo música e conversando madrugada afora. Me levantei para ir ao banheiro e quando voltei ela estava dormindo. Pensei “e agora? Não vou acorda-la, tá tão bonitinha dormindo...”

Tirei seus coturnos e guardei no canto da sala. Limpei a bagunça da minha cama e a carreguei para lá. “Espero que ela não caia”, pensei, pois minha cama é pequena. E fui dormir no sofá, afinal.

Na manhã seguinte, acordei com um “Hey, bom dia!”. Ela estava sentada no braço do sofá, descalça e com as pernas cruzadas, comendo um pedaço de pizza que estava na geladeira.

- Bom... dia... – respondi, esfregando os olhos e limpando a baba do queixo.

- Bom, eu preciso ir agora – disse, enfiando os pés nos coturnos – Mas a gente se vê. Tchau.

Levantou, ainda comendo a pizza, e saiu.

- Ei, peraí – gritei, mas ela já tinha batido a porta.

Um minuto depois apareceu na porta novamente, e disse:

- Ah, obrigada por me emprestar sua cama. E pela pizza. – e saiu novamente.

Fui pra minha cama. O travesseiro cheirava a cigarro, mas eu não me importava. Dormi de novo, acordei e o dia seguiu normalmente, mas volta e meia eu pensava naquela baixinha estilosa. Era sábado, a noite chegou e eu não tinha a mínima vontade de sair. Algumas pessoas acham que sair nas sextas e sábados a noite é essencial. Eu não ligo.

Lá pras 20:00, eu me preparava para começar a jogar Guitar Hero no vídeo game, quando o interfone tocou. Atendi e uma voz feminina ligeiramente rouca falou:

- Abre aí pra mim.

[CONTINUA...]

(Gabriella Avila)

;)


domingo, 26 de junho de 2011

Rock'n love (parte 1)

O bar estava movimentado e eu, entediado. Era aniversário de um amigo e a turma resolveu comemorar lá. Eles estavam na terceira rodada de tequila, e eu apenas observava. Acho tequila uma bebida ridícula, e mais ridículo ainda aquele ritual de lamber o sal, morder o limão, arriba, abajo, anãoseimaisaonde. Decidi explorar o ambiente pra ver se encontrava alguém deslocado como eu. Foi quando esbarrei nessa garota.

Na verdade não houve esbarro nenhum, é só uma forma de dizer que eu a encontrei. Sentada em uma daquelas cadeiras altas, com um dos cotovelos apoiados na mesinha. Usava um vestido cinza de mangas compridas e um par de coturnos. Sem pulseiras, brincos ou colares. Tinha os cabelos muito escuros e lisos até o meio das costas e algumas mechas muito vermelhas, que pareciam brasas acesas em meio a cinzas negras. Uma luz sob a mesinha iluminava seu rosto apático.

Me aproximei timidamente, mãos nos bolsos, sem nem saber o que dizer. Mas sabia pela sua expressão que ela se sentia tão entediada quanto eu. Dei um singelo Oi. Ela olhava pra baixo e apenas movimentou os olhos em minha direção. Soprou para cima a fumaça do cigarro que fumava e respondeu com um Olá tão singelo quanto o meu. Enquanto eu pensava o que dizer para puxar assunto, ela comentou:

- Morrison e seu olhar matador.

Disse apontando para minha camiseta estampada com a foto mais famosa de Jim Morrison, falecido vocalista do The Doors. Seu tom de voz era baixo e um pouco rouco, muito interessante.

- Gosta de The Doors? – perguntei, aproveitando a deixa.

- Sim. Gosto da maioria das bandas que tem ‘The’ no nome. Senta aí, cara.

Na mesa um copo de whisky com bastante gelo e um maço de LA. Seus lábios eram de um vermelho desbotado, e descobri por que: boa parte do batom ficou no copo. Roubei uma das cadeiras altas da mesinha ao lado e sentei de frente para ela.

- Você parece meio desanimada... – comentei.

- Ah, está tão evidente assim? Algumas amigas me arrastaram pra cá, uma delas bebeu horrores e está passando mal, chorando e vomitando. Não suporto esse tipo de coisa e deixei as outras cuidarem disso. Amanhã levo pra ela um remedinho pra ressaca e fica tudo bem. Melhor do que voltar pra casa com os sapatos sujos de vômito. Estou só terminando meu whisky pra ir embora. – ela justificou, muito sincera.

- Entendi... eu também vim meio sem querer.

- Quer um gole? Um trago? Um beijo? – ela ofereceu.

- O quê? – eu escutei bem, mas perguntei só pra confirmar.

Ela riu.

- Brincadeira. Sua cara foi ótima.

Ri também, perguntei se ela morava perto do bar e ela respondeu.

- Moro a três quadras de distância da sua rua. Quer companhia até em casa? Tá tarde e... – ofereci, sem a intenção de cantá-la. Estava realmente preocupado com sua segurança... Um pouco.

- Sei sei. Pode ser, tudo bem. Você não tem cara de maluco e tem o Jim estampado na camisa. Ta certo pra mim. Vou só pagar a conta.

Ao se levantar da mesa ela jogou o cabelo para o lado, e pude perceber que acima da orelha direita havia uma faixa de cabelo rapado, provavelmente na máquina 3. Nunca tinha visto isso em uma garota, mas achei legal.

Fomos andando devagar pela avenida pouco movimentada, falando sobre música. Ela conhecia várias bandas clássicas que eu curto. Contei sobre minha coleção de vinis e seus olhos brilharam...

[CONTINUA]

(Gabriella Avila)

Essa é uma historinha que escrevi ontem de madrugada. Era pra ser só um textinho, mas acabou com 4 páginas.

O que mais me frustra em escrever textos, é não poder ilustrá-los como gostaria, como os imagino na minha cabeça =/
Bom, espero que gostem. Até o fim da semana posto a 2ª parte.
;*

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Ensaio sobre Clube da Luta


Esse é um ensaio final pra disciplina de Comunicação e Cultura do meu curso. Deveríamos escolher um produto cultural e analisá-lo sobre a ótica de algum conceito estudado na aula. Achei que Clube da luta seria ótimo pra falar de sociedade pós moderna. Quem não acharia?

Clube da luta talvez tenha de ser assistido mais vezes, como foi declarado pelos críticos do New York Times após sua estréia no cinema. Um filme de 1999, baseado em uma obra literária homônima, que teve um papel importante no quesito crítica a sociedade. Com elenco recheado de atores renomados como Brad Pitt, Edward Norton e Helena Bonham Carter, que encarnaram muito bem seus personagens difusos. Classificado como gênero de ação e faixa etária mínima de 18 anos para assisti-lo, por conta de suas muitas cenas de luta (que dão nome ao filme), nudez e explosões.

Uma história complicada, com personagens profundos e perturbados cada qual a sua maneira. Jack é um trabalhador comum, que sofre de insônia e no tempo livre gosta de comprar coisas que talvez nem precise. Em busca de tratamento para a falta de sono, começa a freqüentar grupos de apoio a todo tipo de doenças. Freqüentar esses grupos, mesmo sem sofrer de nenhuma doença, estranhamente faz com que ele se sinta melhor. Mas eis que aparece uma mulher misteriosa e com sinais de loucura: Marla Singer. Ela passa a freqüentar os mesmos grupos e isso atrapalha os objetivos de Jack, que se incomoda com sua presença. Na mesma época ele conhece Tyler Durden, um cara que vive sem limites, estabelece as próprias regras e não se importa em seguir os padrões da sociedade em que vive. Após a explosão de seu apartamento, Jack vai viver com Tyler e começa a viver experiências que fogem a sua rotina e o levam ao limite. Juntos eles fundam o Clube da Luta, uma válvula de escape para homens cansados de suas vidas sem ação.

O filme claramente critica a sociedade pós moderna, sociedade essa que após se libertar de todas as amarras das doutrinas anteriores, finalmente começou a sentir uma espécie de liberdade, mas também o peso desse conceito. Critica a cultura de massa que influencia o consumo e dita regras disfarçadas. O personagem Jack representa o cidadão acomodado na zona de conforto. Trabalhador solitário e alheio que começa a sofrer de insônia. Marla Singer é alguém sem objetivos que apenas espera pelo dia da morte, e vai se virando como pode até lá. Já Tyler Durden é um anti-herói incomodado com os rumos que a sociedade tomou e por conta disso ignora tudo que o limite. Ignora o consumismo e materialismo, deixando isso claro na célebre frase “As coisas que você possui acabam possuindo você”. O encontro desses três revela tudo que parece errado no mundo, e mostra que talvez possa ser mudado se algo for feito para incomodar a massa e tirá-la da inércia em que se baseia.

Culturalmente, esse é o pós modernismo do ponto de vista social: pessoas livres para se expressar e viver suas vidas da forma que preferem, mas que talvez precisem de uma orientação para tal, acabando por seguir a massa. Pessoas desenvolvendo doenças como estresse e insônia. Cada vez mais acomodadas e despreocupadas com uma série de valores possivelmente perdidos. Todos esses conceitos estão explícitos no filme, e mesmo os que ficaram implícitos conseguem ser facilmente reconhecidos.

Diante disso a comunicação é uma ferramenta poderosa e perigosa. A comunicação de massa ajuda a orientar todos para o mesmo rumo. A comunicação alternativa, daqueles que se incomodam com a alienação, já pode ter papel diferente: a de chacoalhar as coisas e “acordar” as pessoas. Basta alguém saber domina-la. Tyler Durden sabe muito bem, e convence dezenas de pessoas dos erros que a sociedade comete talvez sem perceber. Ou quem sabe, plenamente consciente.

Gabriella Avila

PS: Não citei o desfecho da história nem as descobertas feitas no filme pra não ser spoiler, e tbm pq não se encaixava no objetivo do texto ;]

"Eu vejo aqui os homens mais fortes e inteligentes. Vejo todo esse potencial desperdiçado. Droga! Uma geração inteira abastecendo carros, servindo mesas. Escravos de colarinho branco. A propaganda põe a gente pra correr atrás de carros e roupas. Trabalhar em empregos que odiamos para comprar merdas que não precisamos. Somos o filho do meio da história. Sem propósito ou lugar. Nós não temos uma Guerra Mundial. Nós não temos uma Grande Depressão. Nossa Guerra é uma guerra espiritual. Nossa Depressão, são nossas vidas. Fomos criados através da tv para acreditar que um dia seriamos milionários, estrelas do cinema ou astros do rock. Mas não seremos. E estamos aos poucos tomando consciência desse fato. E estamos muito, muito putos.

Você não é o seu emprego. Nem quanto ganha ou quanto dinheiro tem no banco. Nem o carro que dirige. Nem o que tem dentro da sua carteira. Nem a porra do uniforme que veste. Você é a merda ambulante do Mundo que faz tudo pra chamar a atenção. Nós não somos especiais. Nós não somos uma beleza única. Nós somos da mesma matéria orgânica podre, como todo mundo."

Tyler Durden

quinta-feira, 26 de maio de 2011

2 vidas em 2 anos

2 anos se passaram quase sem a gente perceber.E foram cartas, palavras e fotos. A descoberta de um sentimento que só fica mais forte. A felicidade de encontrar alguém disposto a ouvir, aconselhar, cuidar e amar. Ai, amar. Eu achei que era difícil. Doloroso e sofrido, como muitos pregam. Mas não, é suave.
E eu sinto isso ao olhar nos seus olhos claros de pertinho. No seu abraço tão seguro. No jeito que você ri entre um beijo e outro. Na nossa cumplicidade e amizade forte. Até no jeito que você ronca e não me deixa dormir (mas tudo bem, já que as vezes eu durmo pesado e babo no seu ombro, então estamos quites ;p). Em todo o relacionamento, que deveria ser um tanto quanto conturbado devido a nossas personalidades tão diferentes, mas que dá certo demais, sem que a gente possa, e nem mesmo queira explicar o porquê.
Em dois anos alguns encantos se perdem, sem querer. As coisas se tornam mais reais, menos fantásticas, sem que isso seja ruim. Estar com você a tanto tempo me faz encarar as coisas com mais clareza, mas mantendo meus sonhos mais possíveis.
Com você eu me sinto montando um quebra-cabeça de peças tortas. Tentando encaixá-las da melhor forma. Mas, acredite, está ficando lindo.

Te amo tanto que nem sei.

Gabriella Avila
para Vasco Rodrigues

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Take me


Eu quero que você invada minha vida, minha casa, meu quarto. Me acorde com um beijo, uma travesseirada carinhosa ou cócegas nos pés. Pesque roupas confortáveis no meu guarda-roupa e assista eu me vestir. Me puxe pela mão e me jogue dentro de um carro, um ônibus ou um metrô. Sente ao meu lado e não diga aonde vamos.

Qualquer lugar. Longe, perto, cheio, vazio. Apenas me leve. Passe o dia encostado em mim, me olhando nos olhos e contando aquelas piadas. Mostre que você está aqui. Sempre esteve e sempre estará. Vamos, não é difícil.

Me leve pra casa depois de um lanche barato. Me espere tomar banho, ou participe dele comigo. Me deite na cama, me cubra com um cobertor macio, ou então de beijos se preferir. Saia do meu quarto para entrar nos meus sonhos. Faça tudo novamente neles. Mas sem que eu tenha que pedir.

(Gabriella Avila)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

atmosfera de perda

Fumaça densa e garrafas espalhadas pelo chão. Buracos de cinza no tapete e pequenas queimaduras na pele. Maquiagem borrada, olhos inchados e encharcados. Olhar perdido, sorriso perdido, amor perdido.

Ele esteve ali, tantas vezes. Fazendo-a sorrir com frases bestas, fazendo-a gritar de êxtase. Derrubando suco no tapete, roncando. Incomodando-a com aquela adorável presença.

Aquela música não pode mais tocar. Aquela que tocou em seu celular, levando a mensagem que desmoronou seu pequeno mundo. Toda vez que ela fecha os olhos, lembra. Daquele corpo forte que tantas vezes a carregou e rodopiou, fragilizado. Daquele sorriso que tantas vezes salvou seu dia, fraco. Daquela mão apertando sua mão, lentamente perdendo a força. Os olhos fechados que não abriram mais.

Virou doses e doses. Fumou um cigarro atrás do outro. Ela queria afogar e sufocar aquela sensação de vazio. Diluir aquele nó na garganta. As lágrimas rolavam em silêncio, entre um grito desesperado e outro. E o corpo perdia o equilíbrio. Com a visão não se importava mais, pois as lágrimas já a deixaram turva e embaçada antes do álcool..

Dia 30 de Outubro. Eles fariam 4 anos juntos. Ela vai passar a vida lembrando que ele tentou dizer algo antes de fechar os olhos, mas não conseguiu. Ela quer acreditar que era um último “eu te amo”.

(Gabriella Avila)

terça-feira, 10 de maio de 2011

Voltei, talvez para ficar

Depois de um longo e tenebroso inverno, estou de volta.
Imagino que as pessoas tenham parado de vir ao blog depois que eu passei tanto tempo sem postar nada, então posso estar falando sozinha agora.

Faz um tempo que eu não escrevo nada. Meus surtos criativos não ocorrem mais com tanta frequência. Mas eu senti falta do meu espacinho aqui. Por isso voltei.

Caso alguns ainda queiram contato comigo, mandar um oi, meu novo e-mail é: gabi.avila@live.com
o outro e-mail (gabis338@hotmail.com) teve uma treta com o hotmail e foi bloqueado.
O twitter continua o mesmo: http://www.twitter.com/gabiilela

Amanhã volto a colocar textos. Vou me virar pra escrevê-los. Não posso simplesmente parar com algo que é tão bom pra alma quanto escrever.

E layout reformulado, pq aquele eu já enjoei. O que acharam?

beijos ;*