terça-feira, 8 de junho de 2010

Despedida de Laura



Mais ou menos 9:30 da manhã. Os raios de sol entravam intensamente no quarto, e Laura constatou, irritada, que esquecera de fechar a janela de fora, a que deixa o quarto escuro. Apesar de ter sido acordada cedo num domingo, o clima do quarto estava ótimo. Assim que sentou na cama, uma coisa lhe chamou atenção: um raio de luz incidia diretamente sobre um porta-retrato azul que estava em cima da cômoda. A fina camada de poeira cobria a foto de um garoto carregando uma garota nas costas. Ambos sorriam, felizes. Eram Laura e Klaus.
Klaus era o melhor amigo de Laura. A melhor pessoa que ela já conheceu. Era lindo. “O mais lindo do mundo”, ela costumava dizer. Ele sabia tudo de sua vida, sabia tão bem que Laura as vezes se sentia uma personagem criada por ele.
Olhando para a foto ela se lembrou do dia em que Klaus se foi. Ele odiava clichês e no dia de seu enterro, o maior deles aconteceu: choveu. Claro que alguém sussurrou que o céu estava chorando. Laura esboçou um meio sorriso, achando graça e imaginando o que ele diria se estivesse ali. Talvez estivesse, quem sabe?
Durante a cerimônia ela não prestava atenção. As palavras do padre soavam distantes e ela só
queria ficar sozinha com o que restara de Klaus. Uma lápide fria. ‘Como a morte é injusta ao transformar pessoas radiantes em lápides frias.’ pensava ela.
Por fim as pessoas começaram a ir embora, mas ela não iria com elas, precisava despedir-se dele.
Laura ajoelhou em frente ao túmulo, já ensopada da chuva. Tremia de frio, mas não ligava. Parada ali, encarando o nome de Klaus gravado no mármore, lembrou do dia em que estavam sentados no deque da praia, com os pés para fora, tocando a água morna do mar. Ela encostou a cabeça em seu ombro enquanto ele passava os dedos por seu cabelo já embaraçado pela maresia. Klaus sussurrou em seu ouvido:
-Laura?
- Oi... – ela respondeu baixinho, com os olhos fechados.
- Promete que nunca vai me esquecer? – disse ele, e sua voz tremia um pouco.
- Não seja bobo Klaus... – disse ela, achando graça.
- Falo sério. Eu nunca te falei, mas meu maior medo é ser esquecido...
Notando o tom sério de sua voz, ela levantou a cabeça e olhou em seus olhos acinzentados. Viu ali uma fragilidade nunca antes vista, e comovida respondeu:
-Claro que não, não esquecerei.
- Mesmo se eu morrer?
- Mesmo se você virar pó.
Ele sorriu e lhe deu um beijo na testa.
Lembrando daquilo, lágrimas escorreram pelo rosto de Laura, mas ela sorriu, e sussurrou:
-Seu bobo, como poderia esquecê-lo? Sei que você não esta mais comigo, e você não sabe o quanto isso dói. Mas não tenho como te esquecer. Como conseguiria? O que faria com as nossas lembranças? Não posso, não quero e nem conseguiria me livrar delas. São parte de mim e me completam. Não te esquecerei, tá bom? Nem morta!
Opa, desculpa – finalizou ela, mordendo a língua como sempre fazia quando falava alguma besteira.
Nos dias seguintes em que a tristeza a consumia, todos tentavam convencê-la de que Klaus agora era passado, o que era um erro.
Pois muitas coisas para Laura eram passado. Mas Klaus nunca seria. Na verdade ele era seu passado, é seu constante presente e o futuro de seus pensamentos, pra sempre.
Várias pessoas deixaram Laura por vontade própria, mas Klaus não. Ele foi embora pra longe, longe mesmo, levando os segredos dela.
Mas de alguma forma ela o tinha ali, sorrindo para ela.
“Nem se você virar pó.” Disse, soprando o pouco de poeira no porta retrato.


(Gabriella Avila)

Mais uma da série "Laura" xD
Eu nunca enterrei um amigo, nunca perdi ninguém importante, e nem quero. Mas já vi várias vezes isso acontecer, e sempre me pego pensando nesse sentimento de perda. Já escrevi sobre ele várias vezes, parece fácil. Mas não sei se saberia lidar com ele. Mas a Laura sabe. Ela sabe de coisas que eu não sei, mas vou aprender um dia ;p

Po, esse fim de semestre tá tenso hein.. trabalhos acumulados, uma loucura... to até meio perdida.
Mas espero nas merecidas férias que já estão chegando ter inspiração suficiente pra escrever e postar bastante aqui ^^

;*

2 comentários:

  1. Nossa viciei no seu blog. Já comentei uma vez, e faz um pouco de tempo. Arrasou com esse texto. Também já me peguei refletindo várias vezes sobre a morte, principalmente de pessoas que amo. Difícil. Enfim, parabéns pelo blog e pela linda estória.

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  2. AAAAAAAAAin Gabii!
    vc deveria escrever um livro sobre a Laura!
    ela é tão profunda *.*
    adorei o texto e vários outros! Vou procurar comentar com mais frequencia, rs... É porque normalmente eu esqueço! xP
    Beeeijos, Aline!

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